quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entre ideias, farrapos, língua e sangue

Existe uma palavra que vem antes da palavra. Um tapa que vem antes de qualquer gesto. Uma dor que chega antes que qualquer explicação lhe possa ser dada.
Existe um já que é antes desse segundo de agora. O instante-já de Clarice.
Deixe-me usar Clarice, sim?
Dá-me tua mão.
Antes que eu sufoque, diga qualquer coisa.
Dá-me tua mão. Prova que estou cega e que alguma coerência, algum sentido, existia dentro daquele turbilhão. Prova que eu estou errada e mostra alguma verdade em meio a todas aquelas frases soltas de outrora.
Dá-me tua mão e mostra que o gosto de baunilha não precisa ficar assim tão amargo.
Prova-me com a língua e com o sangue. Não com farrapos e ideias.
Dá-me tua mão e vê se o calor da pele da minha mão consegue te mostrar que ainda há vida em mim. Daí, mostra-me também. Mostra-me a vida que talvez ainda circule na minha mão. Mostra-me porque eu já não a vejo.
Acalma esses dias de pressa.
Dá-me a tua mão, teu golpe de graça, neutro artesanato.
Ou se tudo que tem são as ideias e os farrapos, guarda-os contigo. Deles eu não preciso.
Dá-me a tua mão, e faz tua voz ser ouvida pela sala. Ou não volte mais aqui.

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(a gente pode esquecer tudo isso e um dia prometo escrever uma coisa bonita)

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