(La Toilette - Henri de Toulouse-Lautrec)
Diz que eu preciso ser feliz, que
esse é meu dever, que me condena à felicidade, diz que felicidade é o que você
me deseja sempre, sempre, sempre. Que pela sua lei, eu era obrigada a ser
feliz. Repete: que seja doce. Mas fugiu no mundo sem me avisar, né?
Eu costumava me rir toda da nossa
quimera sem prumo. Andava nua pelo meu país, achava uma graça ser a noiva do
cowboy, pouco me dava se haviam outras três. Mas essa palavra – felicidade – é um
peso, sabe? A gente anda melhor quando anda distraído. É só parar pra pensar e
pronto! Ela já não existe. Ela é sempre o quase.
Não fuja não... eu só quero
dizer, mais nada. Não é que agora a gente tenha medo, não é isso... mas é que
felicidade é uma irrealidade complexa. Tarefa árdua para quem se imaginava num
destino delicado. Tem que trincar os dentes, abrir os punhos quando eles
quiserem cerrar. Depois do tempo da maldade (sim, a gente passou por ele) a
felicidade chegaria no tempo da delicadeza? Nem sei. Penso que felicidade só
pode ser plena de si, se aceitar trazer também as durezas.
Meu bem, da próxima vez me
obrigue a algo mais simples, sim? Deseje-me sólida ou fluida, quem sabe pedra,
talvez uma guerra, um espinho, uma asa. Até um cavalo que só fale inglês. Estar
obrigada à felicidade tem sido impiedoso, torna fatal que o faz de conta
termine sempre assim.