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PASSO QUATRO
Tua voz inunda o quarto. Sem mais, invades as paredes inflando as veias da sala. Os móveis páram a me observar. A casa toda respira num só ritmo: o de teus passos pelo tapete. Este se recolhe em recortes cada vez menores e afunda os espaços já marcados por teus pés. Agora eu vejo: a casa, sem que eu me apercebesse, sempre fora tua cúmplice. Conquistara-a, decerto, ao deslizar de leve as mãos por cada canto, remexendo seus hiatos, os dois se amando enquanto eu dormia. Agora, cada pedaço é branco, cada minuto desaba no vazio; um vazio de apertar o peito. A cadeira não te senta, a cama não te deita, a porta não mais te emoldura ao chegar; nada aqui te participa. Denunciamos, ela e eu, na cara insone, a tua ausência. Outro instante pendendo no azul oblíquo...
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