domingo, 28 de agosto de 2011



"Dá-me a tua mão: vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é a linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio".

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Engraçado... sempre escutei o clichê de que quem lê viaja. Eu não sabia que quem viaja volta um pouco pra casa. É como se cada pedacinho do que se vê fosse procurando um lugar familiar pra ocupar na sua memória. A gente pode ficar até meio confuso, sem saber ao certo se está mesmo só conhecendo um monte de coisas novas, chega a parecer que se volta em várias páginas e se continua a escrever, com sentidos novos, é certo. É um pouco como se a gente tivesse encontrado mais um pedacinho da história, um que a gente nem sabia que faltava...
A foto é do Musée Rodin, que conheci agora em agosto. E o texto é de A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, que li há algum tempo já. O texto encheu a imagem de sentido no instante mesmo em que a vi, e a imagem agora traz mais cor ao texto. Pra mim, eles agora andam juntos... E tanto mais...