domingo, 8 de julho de 2012

Diadorim é minha neblina



"Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de Diadorim - de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade. Me, a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo. Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei - na hora. Melhor alembro."
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"O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente - "Diadorim, meu amor..." Como era que eu podia dizer aquilo?"
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"E como é que o amor desponta?"
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"Coração cresce de todo lado. Coração vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas. Coração mistura amores. Tudo cabe."
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"E eu - como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? Minha vida o diga. Se amor? Diadorim tomou conta de mim."
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"E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei - daí então acreditei."
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"Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim que não era de verdade. Não era?"
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"Diadorim deixou de ser nome. Virou sentimento meu."
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"Aquilo me transformava. Me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava."
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"Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço e fatal, carecendo de querer, e é só um facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."
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"Tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim."
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"No fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijas, as muitas demais vezes, sempre."
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"Abracei Diadorim, como as asas de todos os pássaros."
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"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."
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"Amor é a gente querendo achar o que é da gente."
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Trechos de Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa (recitados por Maria Bethânia em "Bethânia e as palavras")



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