domingo, 20 de março de 2011

"O mais profundo é a pele"



Sou tão colorida e caleidoscópica quanto cinza e opaca. Mantenho os pés bem firmes no chão enquanto quanto flutuo por aí. Tenho tantas lágrimas presas quanto risos soltos, ou o contrário, quem sabe: tantos risos abafados quanto lágrimas espalhadas por aí. Tantas estórias quanto silêncios afogados no travesseiro. Sou tanta entrega quanto desconfiança. Sou dura como uma folha de papel, e me deixo escrever e rabiscar na esperança de que tantas linhas acabem por encontrar um rumo. Eu resisto a avalanches, mas soçobro com uma só gota.
Edifico mundos, mas sou como areia. E mesmo para mim, é muito difícil saber quando e onde estou. Eu me perco constantemente.
Eu passeio entre extremos, amando as intensidades, mas morrendo de medo de ser carregada num turbilhão. Assim, sou pura mansidão, mas meu equilíbrio só se mantém por uma quase lunática volúpia. Amo com todas as garras escondidas em meus cabelos. E odeio apenas no ontem, nunca no presente.
Sou raivosa, apaixonada, chorona, fria, calma, determinada e ponderada. Entendo pouquíssimas coisas. Até mesmo, apesar do que digo, eu não entendo os opostos, mas não acho que se atraiam. Acredito que as aparências não enganam, nós é que as vemos da forma errada. Tudo que precisa ser visto, dito e mostrado, está ali, o tempo todo.
Peço perdão, mas nunca me arrependo. Tenho tanto medo de me ver exposta, que saio me gritando por aí, e mostro tudo aquilo que queria esconder. Eu odeio despedidas e dificilmente aceito derrotas. Mas sei que é o fim, e sem mais o que dizer, retiro-me do recinto.

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Imagem: Vik Muniz

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