terça-feira, 1 de março de 2011

Era hora


Já era hora meu amor. Já era hora e ele não via, Maria também não via.
Era hora de separarem-se os corpos, virar os olhos para lados opostos, e andar, andar sempre mais um pouco. Hora de acordar do sonho.
Maria leva um susto quando olha o relógio e vê quantas horas se passaram desde então.
Agora, já de pé,o jeito é tentar ser firme. De vez em quando, surpreender-se ainda com uma lágrima que cai sorrateira, ligeira. Ela queria cair e Maria não deixava, Maria não deixava e ela voltava pra garganta, até que Maria a jurasse esquecida, engolida; aí ela cai.
Repetir até começar a (quase) acreditar que a felicidade pode ser reencontrada em outra noite. Repetir até começar a sentir-se (quase) feliz. Repetir que é possível, porque é preciso seguir.
É hora agora de seguir; “navegar é preciso, viver não é preciso”.  Viver é aquela coisa doida, aquele turbilhão, aquela intensidade latejante, dormir um pouso mais pra escapar da sanidade. Mas pra quem deve seguir navegando não se pode mesmo esperar muito mais que só um quase, certo?
Nem sempre é assim. Há dias em que ela (quase) acredita de verdade, até se ver surpreendida por aquela lágrima que havia esquecido de cair (ou será que Maria ainda produzia lágrimas novas?). Maria está pessimista hoje, ela sabe.
Deixe estar.

http://www.youtube.com/watch?v=US54UI_UOUQ&feature=related



Figura: La Toilette - Toulouse Lautrec

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